segunda-feira, 2 de maio de 2011

Entre o rap e o reggae

Data: 02/05/2011

Bairro do Bronx (NY), berço do hip-hop
Napoleão Bonaparte
Jamaica, o berço do reggae
Bob Marley, um ícone do reggae
2 de agosto de 2008

"Quando discutimos os impactos sociais e globais do rap e do reggae, estamos analisando duas formas artísticas que compartilham muitas similaridades, mas ao mesmo tempo possuem diferenças significativas.

Inicialmente, ambos, rap e reggae, são produções da vida negra no gueto, e são respostas culturais a condições socioeconômicas de exclusão, pobreza, opressão de classe e uma desindustrialização característica do fim do século XX e início do XXI. Essas similaridades são contrabalançadas pelas opções culturais feitas por muitos dos primeiros criadores e modificadores dessas formas artísticas, contudo.

Enquanto os cinturões de pobreza americanos deram à luz uma música que falava das condições do Bronx, do Brooklyn, e da Costa Leste em guetos ainda piores, o reggae surgiu das favelas jamaicanas, onde os pobres eram informados, não só pela sua pobreza, mas por décadas do movimento sociorreligioso do Rastafarianismo, o qual, com seu ideal de retorno à África, deu uma visão de fé no futuro para pessoas em condições de vida extremamente desesperançosas. Napoleão Bonaparte dizia: ´a religião é o que impede que os pobres matem os ricos`.

É essa característica que distingue o reggae do seu primo americano, o rap. Pois, enquanto o rap nasceu no gueto, em meio às piores privações na moderna história americana, ele não permaneceu ali e é, hoje, uma indústria multibilionária que vende seus produtos ao redor do planeta. E enquanto sua mais recente encarnação pode estar carregada com uma linguagem e um sotaque centrados no gueto, seus praticantes vivem tão longe do gueto quanto seus automóveis permitam. Eles vivem suas vidas como as velhas estrelas do rock – com suas mansões e milhões para consumir e ostentar. As estrelas de maior sucesso do reggae ganharam prodigiosas quantidades de dinheiro, mas muitos permaneceram na Jamaica, sua mensagem de resistência à opressão colocada no meio das coisas, seja em casa ou no exterior.

Nos seus retratos em vídeo (nos quais, para ser honesto, o rap é preferido ao reggae, o qual é raramente mostrado em redes nacionais como a BET), o rap se distingue do reggae pela sua escolha nos temas amorosos (ou, deveríamos dizer, luxúria) e as imagens de mulheres desejáveis.

Na maioria dos vídeos, o rap apresenta garotas negras de pele clara, latinas também de pele mais clara e, às vezes, alguma garota com aspecto oriental. Mulheres realmente negras [N.T.: Mumia usa as expressões brown e black], com pele verdadeiramente escura, são raramente retratadas, especialmente como figuras centrais.

Vídeos de reggae tendem a tomar o caminho oposto, retratando mulheres bem negras como figuras centrais, o que poderia se dever à influência da consciência da africanidade, ou mesmo do nacionalismo do movimento Rastafári. Um reggae de sucesso soa mais ou menos assim:

´La, la, la, la, la, la, la, la, - Feliz aniversário, mulheres africanas;
Vocês sabem que eu amo vocês;
Você sabe que eu preciso de você, mina;
La, la, la, la, la, la, la, la, la, Feliz aniversário, mulheres africanas!`

Um rap com uma letra assim é improvável (ainda que o rap seja largamente consumido na África).

O rap evoluiu como uma estratégia não só para fazer música, mas para escapar dos perigos do gueto; em certo sentido, ele usou a tradição do gueto para escapar do gueto. O reggae evoluiu como uma música dos oprimidos, mas exortando os que o ouvem a considerar a mensagem de redenção nas crenças rastafári, bem como para fugir não do gueto, mas da Babilônia – o sistema. Como tal, enquanto o gueto era um problema, ele não era o problema.

O problema era o sistema opressor por inteiro, representado por todos os governos ocidentais e, no sentido jamaicano, a independência da Inglaterra [N.T.: a Jamaica se tornou independente em 1962] não resolvia o problema, apenas adicionava outro problema.

A salvação está no retorno à terra prometida – na África. O rap não tem uma visão equivalente. De fato, é um negócio, como qualquer outro, no qual a cultura é uma mercadoria; uma coisa para ser fabricada e vendida. No rap, a ´terra prometida` é o dinheiro. Papel. É por isso que muitos dos ´fiéis` de maior sucesso escrevem raps tão fervorosos sobre ganhar dinheiro. É capitalismo americano, com uma batida no fundo."


Fonte: Central Hip Hop

Um comentário:

  1. parece que o rap esta tomando outro rumo
    :)
    http://www.youtube.com/watch?v=opRNDtMfALw

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