Estamos nas vésperas
do Dia Mundial do Rock’ n’ Roll, que é comemorado em 13 de
julho. Por tudo que o rock e o Hip-Hop representaram e representam no
mundo resolvi escrever sobre uma preocupação.
Dia desses um amigo me contou que tava atrás de músicos pretos pra formar uma banda de rock e por isso foi acusado de racismo. Racismo! Como assim? Das bandas de rock conhecidas pelo grande público, 99,9% são formadas só por brancos e ninguém os acusa de racismo. Por que é que quando alguém quer formar uma banda de rock só com pretos, esse alguém é rotulado de racista?
Essas questões me
trouxeram algumas reflexões. No ano em que estávamos fundando o
Coletivo de Hip-Hop LUTARMADA, o mundo havia comemorado o aniversário
de 50 anos do Rock’ n’ Roll. E segundo a historiografia oficial
branca, o que marca o nascimento do rock foi a gravação da musica
That’s all right, mamma, em 5 de julho de 1954 por Elvis
Presley. Na verdade o rock já compunha a trilha sonora da juventude
preta desde a década anterior, mas foi necessário que um branco
gravasse uma musica do gênero para que ele viesse a existir
oficialmente para o mundo (o Rock, a medicina, a filosofia, a
astronomia, o Brasil, a China, a América, a África... tudo no mundo
só existe depois que é “descoberto” pelo branco!).
Quando eu fui
conquistado pelo Hip-Hop ele tinha um certo apelo à diasporicidade
africana. Era um orgulho visível nas nossas artes, roupas e
acessórios. Conforme o Hip-Hop foi se popularizando foi também se
rendendo à tirania do mercado. Por isso o espaço pra sentimentos
como esse orgulho a que me referi, foi ficando cada vez mais
limitado. Só que essa forte ligação com as origens era de certa
forma uma defesa contra a “antropofagia” da pequena e alta
burguesia branca. Nascido nos guetos pretos dos Estados Unidos, o
Hip-Hop foi uma resposta contundente à classe dominante branca que
já havia se apropriado do jazz e do rock. Neutralizada essa
resistência, a classe media branca veio se infiltrando e abrindo
caminho para a “colonização”.
Hoje no Rio de Janeiro
os eventos de maior prestígio na cena Hip-Hop já não acontecem na
periferia, mas sim no centro e na rica e sofisticada Zona Sul. Um dos
sintomas de que o Hip-Hop está muito doente é que começam a se
destacar personalidades oriundas dos bairros e condomínios da classe
meRdia. Pior ainda é que eles se sentem a vontade, inclusive, pra
fazer musica na qual zombam de quem não tem dinheiro pra pagar os
caros ingressos das boates badaladas dessas regiões.
Quando eu era carteiro,
me lembro de ser abordado por um morador de um desses condomínios
onde eu fazia a minha entrega, que veio se queixar que não havia
recebido uma encomenda que já tinha sido enviada há muito tempo.
Ele estava muito furioso, pois se tratava de um disco raro de rock.
Com uma atitude muito desconfiada com relação a mim, ele disse que
os discos que ele gostava de ouvir tinham que ser importados porque
aqui só vendia musica de preto, e que ele, fã de country e Rock’
n’ Roll, detestava musica de preto( ! ). Assim como esse idiota, eu
também acreditava que o rock era uma musica criada pelos brancos.
Qual o problema? A cena é totalmente dominada por eles! E tenho
certeza de que a maioria das pessoas também acreditam nisso.
Como a historia só
surpreende a quem de história nada entende, é prudente que o
original Hip-Hop nacional faça uma autocrítica e um
redirecionamento pra sua caminhada futura. Não será nada de mais se
quando o Hip-Hop completar seus 50 ou 60 anos ninguém mais saiba que
ele foi criado no seio da comunidade preta nova-iorquina. Aqui já
tem gente dizendo que o Hip-Hop no Rio nasceu na festa Zoeira, que
acontecia na Lapa entre o fim da década de 1990 e comecinho da
década seguinte (mesmo que o 1º disco de RAP carioca tenha sido
lançado em 1993 reunindo seis grupos diferentes). O estrago pode ser
ainda pior. Se não reagirmos a esse assalto cultural, pode ser que
um dia os pretos e pretas que formarem os seus grupos de RAP sejam
acusados de racismo por isso.
Por Gas-PA
Coletivo de Hip-Hop LUTARMADA
Bom, de primeira preciso falar q não sou africanista, apesar de a humanidade ter nascido nesse continente, não costumo considerar essa uma questão relevante.... Mas num vim até aki para falar só isso. Mesmo por essa linha de pensamento acredito q a discussão precisa aumentar, ganhar uma outra forma: as injustiças sociais estão aí, todos sabemos. Quanto ao "Elvis" vs "música de preto", o capetalismo sempre foi assim, com coisas até mais importantes, como a comida: o macarrão é herança chinesa, o feijão e o milho são americanos, as batatas, muitas delas... Assim como o "peru" virou uma "graça de Deus", o rock tb. Cabral não veio aki para fazer um índio presidente da república, e o Lula tá bem próximo disso... ser um "índio", ou "parahíba", ou "analfabeto", não quer dizer nada - o negro capitão do mato tb não. Mas a história das origens da cultura Hip Hop ainda estão sendo escritas, temos mais recursos e maiores possibilidades de dar nomes e datas aos fatos! Gostei muito de ver o doc Tempos da São Bento, pq ali uma moça devolve a força q teve o Hip Hop no Rio, logo no começo. Existe um doc com o Malboro, que ele mostra isso: MC Afrika Batata, fazendo RAP bom, jogando Breaking pesado. Num era baile funk não - funk, se formos olhar direitinho, nada mais é q um pedao do samba carioca-baiano em ritmo de Break. Agora, vc está certo - a nova cultura mora naquele carteiro, q ouviu uma nota racista, q bem poderia ter virado o bacundê, já q num tinha nada com os problemas psicológicos do malandro - poderia tirar ele por cocota, q mostra o cofrinho... Trouxe o carteiro, trouxe o debate, contribuiu - e ainda falta muito para que exista mais respeito pelo ser humano em nossa vida "ocidentalizada". Malcom X forever!
ResponderExcluir1 braço
xnd
A discussão proposta pelo GasPa se torna relevante nos tempos do Fuck All. Existem responsabilidades e propostas de omissão bastante nitidas nos nossos tempos. Temos que evidenciar isso e propor um outro vetor!!!
ResponderExcluirAbraços!!
Ike Turner pega mal...
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