por Clovisbatebola
Nunca um movimento cultural foi tão atacado e esterotipado pela mídia, por conta do ódio das elites brasileiras, como o FUNK. Desde a TV até os jornais, o funk sempre foi associado a pornografia, prostituição, ao tráfico e a violência.
Longe de todo esse estereótipo classista preconceituoso de uma elite mestiça brasileira que nunca se conformou não ser igual ao velho continente e não ser aceita entre as elites internacionais brancas anglo saxônica, as comunidades pobres são celeiros para a reinvenção da nossa cultura popular. Como um mangue é nascedouro do oceano, as favelas são berço para o renascimento da nossa cultura popular.
Sim, os "muleques são sinistro"
O Funk têm sobrevivido e se reinventado de geração para geração. Desde sua chegada ao Brasil, no início da década de 80 (eu estava nascendo), o funk tem contagiado as comunidades, revelando ícones e exportando músicas que entraram para a história. Um movimento que tem renascido no local mais fértil e por isso de forma tão pura e original: no meio da nossa criançada. Eu era moleque quando a onda das melôs se proliferava em nossos espaços de convivência. Sabíamos cantar todas as músicas, conhecíamos os artistas. Era uma febre.
Quase 30anos depois, nada mudou e o funk continua se adaptando e renascendo. Hoje, com o advento da internet (que propiciou o compartilhamento de mídias democraticamente) e com a evolução da tecnologia do celular móvel, hoje o funk cai novamente na graça do povo e se contextualiza. Nossos meninos e meninas vão para a escola ouvindo funk ao ar livre, passeiam de bicicleta ao som do tamborzão e se refugiam nos bancos de ônibus em seu anonimato regado ao ritmo que é considerado a primeira música eletrônica brasileira.
Por dentro das batidas da história
O funk carioca, como é chamado fora do Estado, é um estilo de funk oriundo do Rio de Janeiro, mais precisamente das comunidades pobres. Apesar do nome, é diferente do funk originário dos Estados Unidos. Isso ocorreu porque, a partir dos anos 1970, eram realizados bailes black, soul, shaft ou funk e com o tempo os DJs foram buscando novos ritmos de música negra, mas o nome original permaneceu. O funk carioca tem uma influência direta do Miami Bass e do Freestyle. (Fonte wikipedia)
Um rítimo que nasceu nos bailes públicos e não em programas de TV O termo baile funk é usado para se referir a festas ou discotecas que tocam funk carioca.
A partir da década de 1980, os bailes funks do Rio começaram a ser influenciados por um novo ritmo da Flórida, o Miami Bass, que trazia músicas mais erotizadas e batidas mais rápidas. Ao longo da nacionalização do funk, os bailes - até então, realizados nos clubes dos bairros do subúrbio da capital - expandiram-se a céu aberto, nas ruas, onde as equipes rivais se enfrentavam disputando quem tinha a aparelhagem mais potente, o grupo mais fiel e o melhor DJ. Com o tempo, o funk ganhou grande apelo entre moradores de comunidades carentes, as músicas tratavam o cotidiano dos frequentadores: abordavam a violência e a pobreza das favelas. (Fonte wikipedia)
O deputado Marcelo Freixo foi autor do projeto em que torna o FUNK em atividade cultural, retirando-o do alvo da secretaria de segurança do Estado.
"É som de preto e favelado, que quando toca, ninguém fica parado...nem a ALERJ" Marcelo Freixo
O Funk, assim como o povo, existe por si só
Ao contrário de vários outros ritmos musicais que vez por outra viram hits nas paradas de sucesso, o FUNK existe independente de ícone artístico ou campanha publicitária. Isso se dá porque o funk é muito maior do que um simples ritmo musical, é um movimento cultural que reflete a identidade do nosso povo. Por isso não precisa de campanhas publicitárias como fazem as grandes gravadoras para alavancar a venda de seus artistas, como fazem aos cantores sertanejos agro universitários, o rock e o axé.
O funk sequer precisa de um artísta ou gravadora para que seja promovido, pois o próprio povo faz este movimento de propagação entre si. Talvez por isso os cantores de funk têm uma vida artística tão curta nas paradas de sucesso. Não por questões técnicas ou de capacidade musical destes, mas, porque o FUNK, assim como o DUB da Jamaica e o Forró do Nordeste, existe como uma onda de tremor de terra sem epicentro, que frutifica em vários locais distintos e carregando consigo suas particularidades.
Um passinho antropofágico
Como dizia Oswald de Andrade, a cultura popular brasileira tem em sua formação fatores de antropofagia cultural que faz com que se proteja de toda a investida midiática e se reinvente de forma natural a cada geração.
É como dizer que, por mais que a novela da Globo ou o programa da XUXA tente compactar o FUNK na visão de uma simples dança erótica e estereotipado, nosso povo possui mecanismos próprios para se reinventar apropriando-se de traços de outras culturas (no caso do passinho, há traços do Frevo, do Break, trance, capoeira, step e até do axé) para criar outro "ser" original e sublime.
"É o corpo negro gritando por espaço" - Fábio Emecê
O PASSINHO, como é chamado nas comunidades a dança que mistura Funk com outras danças, surgiu nas comunidades pobres, longe dos grandes centros e das elites culturais virou febre nas redes sociais pelo Brasil inteiro.
Uma demonstração viva da herança da negritude presenteada pelos nossos ancestrais, que cruzaram os oceanos em navios negreiros para aprimorar no cativeiro suas maiores armas de libertação. "É o corpo do negro lutando em sua diáspora", nas palavras do meu amigo Fábio Emecê, como "arma de intervenção nos lugares de vivência". Uma intervenção capaz, em um movimento autônomo e singular, de reinventar sua própria identidade e colocar abaixo os estereótipo e estigmas criados pela elite escravagista.
O Funk é fascinante e nos prova porque, nos passinhos da criançada, os "muleques são sinistro".
Essa é uma postagem em resposta ao artigo infeliz do Professor Chicão em que chama o Funk de "lixo cultural e musical" e compara à um animal todo aquele que não gosta de ROCK. (Confira o artigo infeliz do professor Chicão clicando aqui)
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