Por Arthur Moura
O mercado ao mesmo tempo em que aumenta a velocidade das mudanças
tecnológicas também barateia o custo para quem deseja adquirir
equipamentos que a indústria e o comércio consideram defasados.
Na
verdade, grande parte dos artistas cariocas e paulistas gravaram suas
primeiras experiências sonoras com equipamentos caseiros, baratos e que,
conhecendo as possíveis limitações
técnicas do seu produto, articularam formas para driblar essa aparente
desvantagem que estavam inicialmente transformando a escassez em
linguagem atraente.
A ressignificação do processo de produção baseado em
equipamentos precários fora uma importante saída que permitiu que
diversos artistas obtivessem êxito em suas primeiras experiências
sonoras. Não que hoje, dez, vinte anos após esse boom tecnológico, as
coisas estejam caminhando para mudanças tão radicais.
Mas os
equipamentos de outrora já caíram em desuso pela desnecessidade de se
investir numa linguagem tosca. Ou seja, o que antes funcionou como
alavanca de ideais hoje encontra-se em desuso pela construção de um novo
ideal. Esse processo inicial faz parte da memória dos rappers de quinze
anos atrás que usam da escassez para legitimar suas conquistas de hoje e
se vangloriar pelo patamar que se encontram.
A escassez de ontem
contribuiu então para o acúmulo de capital simbólico para os que ainda
se mantém no cenário hip hop. Ainda que o processo de inserção dos
grupos de rap tenham caminhado pelo terreno da escassez, hoje estes
mesmos grupos não favorecem mais quem arrisca começar da mesma forma.
Ou
seja, aqueles que outrora negavam boa parte das intempéries
tecnológicas regidas por um mercado capitalista global, ao se fazer
valer de alguma forma no mercado, readaptam o seu discurso agora com
acesso aos meios de produção menos modestos para evitar o choque com os
interesses dos que hoje pretendem angariar público.
Dessa forma o
discurso do capital vem ajudar no processo de exclusão de possibilidades
mercadológicas. O estranho não é mais bem vindo. A experimentação
tampouco. As linguagens tornam-se rígidas, e a tecnologia por não estar
contemplando à todos torna-se uma aliada dos que tendem a fechar as
possibilidades de novos grupos que desejam se inserir na cena. Esse
mecanismo não é algo pronto, finalizado.
Ele é sacralizado em
confluência com o espetáculo. É com o estancamento das liberdades
intelectuais que nasce boa parte das possibilidades de sucesso do “um só
caminho”, “A Rua é Noiz” e “Vida Loka”, por exemplo. A ferramenta que
congrega as principais seguranças da ideologia é a sacralização.
O
discurso, por sua vez, torna-se um equipamento da manutenção da
sacralidade. Assim, fica mais fácil, por exemplo, espetacularizar a
sacralidade.
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