Quando eu entrei pro Hip-Hop em 1991 e comecei a cantar REP, ele tinha um importante papel educativo. Em 1992, na edição especial da revista Time (EUA) de 500 anos de “descobrimento da América”, ela deu um rolé pelo mundo pra ver como era o REP fora dos Estados Unidos. Ao darem uma volta pelo Brasil, eles acabaram dando destaque pro meu 1º grupo de REP, Filhos do Gueto. Os repórteres da revista estadunidense se diziam impressionados com o grau de politização e comprometimento do REP brasileiro. Naquela época já estava em curso uma investida do capital contra o Hip-Hop cujos resultados nós sentiríamos mais tarde. Nesse momento, seu forte apelo ao autoconhecimento e auto-valorização da juventude majoritária preta, abria as portas de um mundo novo pra essa gente tão sofrida. Hoje, a um REP descompromissado, desprovido de senso crítico ou qualquer informação q seja relevante pro amadurecimento das pessoas, dá-se o nome de EVOLUÇÃO.
A lobotomia q o capital realizou no REP nos coloca de frente a uma impressionante inversão de valores. Esse gênero musical nasceu no começo dos anos 70 em Nova York como expressão cultural da resistência da parcela mais fudida da classe trabalhadora, a comunidade preta. Por isso foi possível a forte emersão de nomes como o Public Enemy q traduzia em arte toda a luta contra a opressão e a exploração praticada pela classe dominante branca e seus entrepostos. Porém, já no começo da década passada, DJ Saddam, militante do PCdoB e do Nação Hip Hop gravou a musica VIP (http://www.youtube.com/watch?v=BLIaylFReos), na qual, entre outras coisas, tripudia de quem não tem dinheiro pra pagar pra entrar nos bailes de Hip-Hop e pede ao DJ “amigo” pra colocar o nome na portaria. Pra quem não tem dinheiro pra entrar no baile ele aconselha: “se ta duro, fica em casa vendo o Corujão”.
Fui inspirado a escrever esse desabafo ao tomar conhecimento de dois emblemáticos acontecimentos numa batalha de Freestyle acontecida recentemente no meu bairro. No primeiro, um amigo apelidado de Índio – por ainda trazer fortes traços de seus antepassados nativos – ouviu de seu oponente q ele deveria “voltar pro quilombo”. Noutra situação, na merma batalha, outro amigo foi comparado à Medusa por causa de suas dreads. Em ambas as situações a nossa musica, outrora ferramenta de combate ao racismo, foi usada justamente pra reproduzir esse racismo! Caralho, é o poste mijando no cachorro! Então EVOLUÇÃO é transformar nossa musica emancipadora nessa paródia reprodutora dos vícios do mundo capitalista? “Evoluam” sem mim, então. Engata pelo menos a 1ª, rapa, pq essa EVOLUÇÃO de vocês é uma EVOLUÇÃO DE RÉ.
Gas-PA - Lutarmada
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